Por: Martina Sakemi
COLUNA - Tanatologia: superando perdas
Os mitos são critérios errados que repetidamente usamos e aceitamos como verdades absolutas quando, na realidade, não se baseiam em nenhuma realidade científica. São prejudiciais porque, acreditando neles e repetindo-os sem questionar sua veracidade, contribuem para difundir opiniões e crenças que podem causar muitos danos, emocional, psicológico e até profissionais.Podemos aprender a identificá-los e divulgar o que pode realmente ajudar significativamente os sobreviventes.
Alguns Mitos sobre o suicidio:
1- O suicídio é hereditário: Quando em algumas famílias houve mais de um suicídio, pensa-se que pode ser hereditário, por ex: se meu marido cometeu suicídio, é muito provável que meu filho também o faça.
Consequências negativas deste pensamento:
1 - Esse pensamento repercute negativamente nos sobreviventes devido ao medo de que outros membros da família possam fazer o mesmo.
A verdade:
Atualmente não existem estudos que corroborem com a existência de um determinismo genético. O que pode ser herdado é uma predisposição para doenças ou distúrbios mentais , por ex. por exemplo, depressão: vai depender de múltiplos fatores para que essa doença possa se desenvolver e, não necessariamente teria que culminar em suicídio.
2 - Ele foi muito corajoso / ele foi um covarde.
O comportamento suicida é um dos comportamentos mais complexos do ser humano e não pode ser reduzido a um simples adjetivo.
Consequências negativas deste pensamento:
Ao associar o suicídio a uma qualidade você o reduz a uma visão simplista pois considerá-lo como um ato de bravura e isto é um erro pela possibilidade de se tornar um modelo. Em contrapartida ao identificarmos o suicídio como um ato de covardia, culpamos a pessoa falecida e reduzimos nossa capacidade de compreensão. Ambos os conceitos podem causar muita dor para os sobreviventes.
Verdade:
O suicida não é um covarde ou uma pessoa corajosa, é uma pessoa desesperada que sofre enormemente e que não sabe ou não consegue encontrar outra saída, a não ser parar de sofrer colocando um fim na sua vida.
3 - Apenas pessoas com problemas graves cometem suicídio.
É comum pensar que para tomar uma decisão tão séria, ou a pessoa teve problemas pessoais ou econômicos ou algo muito sério para ter dado fim à própria vida.
Consequências negativas deste pensamento:
Esquecemos que o suicídio é multicausal. Família e amigos se sentem julgados e culpados pelo entorno .
Verdade:
Nem mesmo o aparente bem-estar econômico ou social nos salva do sofrimento emocional. Embora estejamos cercados de amigos e familiares ou tenhamos boas relações escolares ou de trabalho e demonstremos uma aparente normalidade, às vezes atrás desta aparência esconde um sentimento de grande solidão e sofrimento que não podemos ou não sabemos compartilhar com os que nos rodeiam.
4 - Apenas pessoas com transtorno mental cometem suicídio.
Quando não entendemos o comportamento do ser humano tendemos a pensar que é devido a algum problema mental. Embora uma alta porcentagem de pessoas que cometem suicídio sofram de um transtorno psiquiátrico grave, isso nem sempre é o caso.
Consequências negativas deste pensamento:
Pensamos que precisamos desesperadamente encontrar algum sinal de doença para justificar o que aconteceu com nosso ente querido e, por não encontrar uma resposta, nossa ansiedade aumenta.
Verdade:
Nem todas as pessoas que cometem suicídio sofrem de uma doença ou transtornos mentais, nem todos os doentes mentais cometem suicídio, embora seja um importante fator de risco.
5 - Eu poderia ter evitado.
É muito normal que o sobrevivente, ao analisar o ocorrido, pense que poderia ter feito algo para ter evitado o suicídio.
Consequências negativas deste pensamento:
Aumentamos nossos sentimentos de culpa causando mais danos a nós mesmos.
A verdade:
Especialistas, psicólogos e psiquiatras, às vezes não conseguem detectá-lo, muito menos uma pessoa sem conhecimento prévio de suicídio. O grau de ocultação e da ideação suicida muitas vezes impede a detecção e a possibilidade de agir de acordo.
6 - Eu nunca vou ser feliz ou nunca mais vou conseguir aproveitar a vida novamente:
No início, o impacto é tão brutal que o pensamento do que aconteceu está constantemente conosco.
Consequências negativas deste pensamento:
A tristeza nos invade e entramos em um estado de desesperança em relação à vida e ao nosso ambiente em geral.
A verdade:
Por muito tempo será impossível nos sentirmos bem, mas com a ajuda certa aprenderemos a enfrentar essa realidade de maneira mais adaptativa.
7 -“O efeito de contágio”: falar de suicídio nos meios de comunicação provoca suicídios.
Alguns meios de comunicação acham melhor não tratar desse assunto, pois podem ser acusados de gerar um efeito de contágio na população.
Consequências negativas deste pensamento:
Silenciar o suicídio, suas causas e suas graves consequências impede o reconhecimento de uma realidade estatisticamente comprovada. Se um problema não é conhecido, as soluções não são procuradas. No entanto, ultimamente as mortes por suicídio superam as de acidentes de trânsito por exemplo. Os familiares sentem que a sociedade dá as costas ao problema.
A verdade:
A cobertura sensacionalista de um suicídio na mídia pode afetar pessoas que estão em uma situação muito vulnerável e pode levá-las a copiar tal ato que geralmente causa sérios danos psicológicos à família e amigos em um momento muito angustiante para eles, e até afeta outros sobreviventes não relacionados ao caso. A cobertura séria e correta do suicídio na mídia deve, sem dúvida, ter um efeito positivo, pois incentiva as pessoas a pedir ajuda.
Espero ter elucidado alguns mitos sobre esse tema tão pouco divulgado, mas de extrema importância.
Até a próxima,
Martina Sakemi
Martina Sakemi - Colunista e Youtuber
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